A Igreja Emergente é uma igreja que se encontra na era pós-moderna, mas isto não quer dizer que ela seja pós-modernista; na realidade é uma contra resposta a pós-modernidade, uma reposta para aquilo que é emergência para as pessoas na sociedade hoje. Dan Kimball em seu Livro “A Igreja Emergente”, constrói uma linha divisora entre era moderna e pós-moderna que ajuda o leitor identificar o que é a igreja emergente. Modernismo – Uma cosmovisão e uma cultura com ênfase na ciência e na tecnologia; a fé no conhecimento como bom e incontestável, num único padrão de moral e verdade absolutas, no valor da individualidade e no pensamento, no aprendizado e nas crenças como elementos que devem ser determinados de modo lógico e sistemático. Transforma-se em: Pós-modernidade Uma cosmovisão e uma cultura emergentes em desenvolvimento, em busca do que vai além da modernidade. Defende que não há uma única cosmovisão universal. Portanto, a verdade não é absoluta, e muitas das qualidades adotadas pelo modernismo não detêm mais o valor nem a influência de antes. Pode ser definido segundo nosso gosto, pois ainda está em formação e desenvolvimento. (KIMBALL, Dan. A Igreja Emergente, Cristianismo Clássico para as novas gerações. São Paulo. Vida. 2008. P.66.)
Nesta descrição de uma era para a outra se percebe uma notável mudança de como as pessoas enxergam o mundo, e como elas vão reagir diante de suas decisões e suas crenças.
O mundo pós-moderno é um mundo que se auto-compreende por meio de modelos biológicos e não mecânicos; um mundo onde as pessoas se vêem como parte do ambiente e não acima ou separadas dele. Um mundo desconfiado das instituições, das hierarquias, das burocracias centralizadas e das organizações dominadas pelo sexo masculino. É um mundo em que as redes de comunicação e as atividades locais das pessoas comuns têm precedência sobre estruturas de larga escala e sobre grandes projetos; um mundo em que a era do livro está abrindo caminho para a era da tela; um mundo faminto por espiritualidade, mas indiferente à religião sistematizada. É um mundo onde a imagem e a realidade se encontram tão profundamente e entrelaçadas que se torna difícil saber onde uma começa e a outra termina. (apud TOMLINSON, Dave. London: Triangle, 1995. P.75.).
Partindo desta mudança de visão o foco da ministração feita na igreja Emergente terá uma publico alvo bem diferenciado. Na modernidade a organização do culto, entendia o publico como sensível- ao -interessado, e na pós-modernidade pós-sensível- ao -interessado. Para a era moderna os cultos, as mensagens eram pensadas de uma forma que as pessoas que já eram freqüentes naquele ambiente se agradassem, estas pessoas já eram as interessadas e já sabiam o que encontrariam na Igreja. Porém, na era da pós-modernidade, onde se encontra a Igreja Emergente, o pensamento não está nestas pessoas e sim nas pessoas em busca de uma espiritualidade ainda não encontrada. Uma forma apresentada foi o retorno da era clássica da Igreja em seus primórdios, um culto bem diferenciado onde o público jovem e jovem-adulto se identifique melhor, com centralização em Jesus Cristo para que seu nome seja louvado. Outro foco claro é que na era moderna as reuniões tinham um formato linear onde tudo caminhava e direcionava para a mensagem a ser pregada; na Igreja Emergente a temática do experiencial percorre todo o culto, e este é o foco central. Assim o culto tem um alcance muito maior a estas pessoas que de certa forma já tem em mente os pensamentos de um mundo pós-moderno. De uma forma mais objetiva Mauro Meinster responde da seguinte forma:
A Igreja Emergente é um movimento da igreja protestante, iniciado por americanos e ingleses, com a finalidade de alcançar a geração pós-moderna. Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta geração, as igrejas emergentes enfatizam o autentico, a expressão criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas (ecclesia reformata, semper reformanda...). Igreja emergente é simplesmente um termo usado para denominar as igrejas que nasceram ou que foram [re] estruturadas para um contexto pós-moderno, pós-cristão de ser igreja no mundo de hoje.
Reformando, Repensando e Reinventando a Igreja.
McLaren usa está estrutura para falar da igreja emergente em seu livro Ortodoxia Generosa, onde a estrutura que se pensa a respeito da Igreja deve ser o seguinte:
· Reformar: A reforma protestante origina um pensamento que com certo tempo perde um pouco de sua força idealizadora, este pensamento é: a Igreja Reformada sempre se Reformando.
De certa forma este pensamento leva a mentalidade pós-moderna, ou pelo menos as mudanças continuas da Igreja, que por vezes são levadas como adaptações, e estas levam conceitos morais, éticos e anti-bíblicos.
Vale apena lembrar que a Reforma Protestante veio como uma voz profética, onde os reformadores denunciavam os abusos e incoerências da Igreja e seus líderes, que exploravam de forma desumana e pecaminosa, os reformadores não proclamavam uma mudança onde as vontades pecaminosas dos seres humanos tomavam conta do culto e muito mais da Igreja.
O lado positivo a tudo isto é, não há uma forma engessada para se dizer que é correta para todos os cultos e igrejas. A Intenção de reformar não é mudar tudo relacionado à Igreja, de forma geral, e nem a intenção de desconstruir a cultura e os indivíduos nela inseridos, mas simplesmente com o ar da Graça do Senhor Jesus evidenciar tudo aquilo que vai contra os seus ensinos que podem ser estudados, vividos e ensinados por toda e qualquer pessoa.
· Repensar: O fato de repensar o formato adquirido pela igreja evangélica é de fato uma coisa importante, pois vê-se a cultura secularizada invadindo e banalizando os pensamentos a cerca dos ensinamentos bíblicos. Um exemplo muito claro no contexto brasileiro é o que se pode chamar de “santidade antes do casamento”, antigamente as pessoas pensavam em se preservar para um casamento puro e santo, onde a noiva entrava com um lindo vestido branco na Igreja simbolizando sua pureza, sua virgindade. Nos dias atuais a questão do sexo antes do casamento tem se tornado comum e muito normal para jovens das grandes cidades, assim como muitas outras assuntos.
Devido a estas mudanças é evidente a necessidade de repensar a igreja, a forma de liderança, o formato do culto, onde a igreja está inserida etc., mas o fato de repensar não quer dizer que tudo está errado, ou tudo está ruim. O repensar esta vinculado a melhoria do culto, esta ligado diretamente ao ato da tentativa de fazer um culto contextualizado onde a cultura e as pessoas são importantes, mas a centralidade ainda sendo a palavra encarnada Jesus Cristo, e as sagradas escrituras ainda estejam na centralidade do culto e também nas igrejas.
· Reinventar: a reinvenção do culto é o processo posterior ao pensamento da reforma, e de repensar a igreja. E é também aonde os líderes mais devem temer suas ações e decisões, pois há inúmeras possibilidades de reinventar o culto e torná-los tudo aquilo o que Jesus Cristo não queria que se tornasse.
A reinvenção é típica da Igreja emergente, onde a centralidade do culto não é mais a palavra, e sim a experiência de cada individuo. A comunhão em si parece não ter muito importância, a ênfase está na experiência pessoal, e para isto as formas cultuais foram reinventadas de acordo com a necessidade apresentada pela demanda da igreja local.
A Igreja Brasileira tem demonstrado suas adaptações criativas para o chamado cristianismo. Várias culturas e teologias têm assolado a igreja brasileira, que apresenta uma tremenda crise de identidade e ate mesmo de fundamentos em sua própria fé. E está reinvenção para o povo brasileiro, ate então, apresenta mais desvantagens do que vantagens, a seriedade dos líderes que aderiram estas adaptações culturais mostra com muita transparência que “o chiqueiro” esta de portas abertas, basta às pessoas estarem dispostas a se sujar nesta lama.
No contexto Brasileiro há algumas pessoas que declararam que em muitas vezes pensaram em abandonar esta igreja evangélica, e ate mesmo já abandonaram e hoje tem um discurso ofensivo a este evangelho reinventado.
Bibliografia Consultada:
CAVALCANTI, Robinson. O Culto Evangélico no Brasil - Uma Tipologia, Boletim Teologico - FTL-B, Tatuape, v. 9, n. 28, p. 7-16, out. nov. dez. 1995.
KIMBALL, Dan. Igreja Emergente, Cristianismo Clássico para as Novas Gerrações. Tradução Robinson Malkones. São Paulo: Vida, 2008.
MCLAREN, Brian. Uma ortodoxia generosa: A igreja em tempos de pós-modernidade. Tradução Jorge Camargo. Brasilia. Palavra, 2007.
MEISTER, Mauro Fernando. Igreja Emergente, a Igreja do Pós-Modernismo? Uma avaliação Provisoria. Fides Reformata. São Paulo, Makenzie, Volume XI, Nº 1, p.95-115, 2006.
RAMOS, Ariovaldo. Nossa Igreja Brasileira: Uma opinião sobre a história recente. São Paulo. Hagnos, 2002.
MCLAREN, Brian. Uma ortodoxia Generosa. A Igreja em tempos de pós-modernidade. Brasília: Palavra. 2007. P.304-305 (apud Steven Johnson. Emergência: a vida conectada das formigas, cérebros, cidades e software. 2001) “Emergência é aquilo que acontece quando o todo é mais astuto que a soma de suas partes. É o que acontece quando você tem um sistema de partes componentes relativamente simples – na maioria das vezes há milhares ou milhões delas – e elas integram de maneira relativamente simples. E, de algum modo como resultado de toda essa interação, algumas estruturas de nível ou de inteligência mais elevados aparecem, usualmente sem planos-mestres, exercendo autoridade. Esses tipos de sistema tendem a evoluir a partir do chão.”. KIMBALL, Dan. A Igreja Emergente: Cristianismo Clássico para as novas gerações. São Paulo: Vida. 2008. P.71. KIMBALL. Op. cit. p.147-154.