segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O que é a Igreja Emergente? "Levantando Conceitos, não definindo opiniões"

A Igreja Emergente é uma igreja que se encontra na era pós-moderna, mas isto não quer dizer que ela seja pós-modernista; na realidade é uma contra resposta a pós-modernidade, uma reposta para aquilo que é emergência[1] para as pessoas na sociedade hoje. Dan Kimball em seu Livro “A Igreja Emergente”, constrói uma linha divisora entre era moderna e pós-moderna que ajuda o leitor identificar o que é a igreja emergente.
Modernismo – Uma cosmovisão e uma cultura com ênfase na ciência e na tecnologia; a fé no conhecimento como bom e incontestável, num único padrão de moral e verdade absolutas, no valor da individualidade e no pensamento, no aprendizado e nas crenças como elementos que devem ser determinados de modo lógico e sistemático. Transforma-se em: Pós-modernidade Uma cosmovisão e uma cultura emergentes em desenvolvimento, em busca do que vai além da modernidade. Defende que não há uma única cosmovisão universal. Portanto, a verdade não é absoluta, e muitas das qualidades adotadas pelo modernismo não detêm mais o valor nem a influência de antes. Pode ser definido segundo nosso gosto, pois ainda está em formação e desenvolvimento. (KIMBALL, Dan. A Igreja Emergente, Cristianismo Clássico para as novas gerações. São Paulo. Vida. 2008. P.66.)

Nesta descrição de uma era para a outra se percebe uma notável mudança de como as pessoas enxergam o mundo, e como elas vão reagir diante de suas decisões e suas crenças.
O mundo pós-moderno é um mundo que se auto-compreende por meio de modelos biológicos e não mecânicos; um mundo onde as pessoas se vêem como parte do ambiente e não acima ou separadas dele. Um mundo desconfiado das instituições, das hierarquias, das burocracias centralizadas e das organizações dominadas pelo sexo masculino. É um mundo em que as redes de comunicação e as atividades locais das pessoas comuns têm precedência sobre estruturas de larga escala e sobre grandes projetos; um mundo em que a era do livro está abrindo caminho para a era da tela; um mundo faminto por espiritualidade, mas indiferente à religião sistematizada. É um mundo onde a imagem e a realidade se encontram tão profundamente e entrelaçadas que se torna difícil saber onde uma começa e a outra termina. (apud TOMLINSON, Dave. London: Triangle, 1995. P.75.)[2].

Partindo desta mudança de visão o foco da ministração feita na igreja Emergente terá uma publico alvo bem diferenciado. Na modernidade a organização do culto, entendia o publico como sensível- ao -interessado, e na pós-modernidade pós-sensível- ao -interessado.  Para a era moderna os cultos, as mensagens eram pensadas de uma forma que as pessoas que já eram freqüentes naquele ambiente se agradassem, estas pessoas já eram as interessadas e já sabiam o que encontrariam na Igreja. Porém, na era da pós-modernidade, onde se encontra a Igreja Emergente, o pensamento não está nestas pessoas e sim nas pessoas em busca de uma espiritualidade ainda não encontrada. Uma forma apresentada foi o retorno da era clássica da Igreja em seus primórdios, um culto bem diferenciado onde o público jovem e jovem-adulto se identifique melhor, com centralização em Jesus Cristo para que seu nome seja louvado. Outro foco claro é que na era moderna as reuniões tinham um formato linear onde tudo caminhava e direcionava para a mensagem a ser pregada; na Igreja Emergente a temática do experiencial percorre todo o culto, e este é o foco central. Assim o culto tem um alcance muito maior a estas pessoas que de certa forma já tem em mente os pensamentos de um mundo pós-moderno[3].
De uma forma mais objetiva Mauro Meinster responde da seguinte forma:
A Igreja Emergente é um movimento da igreja protestante, iniciado por americanos e ingleses, com a finalidade de alcançar a geração pós-moderna. Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta geração, as igrejas emergentes enfatizam o autentico, a expressão criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas (ecclesia reformata, semper reformanda...). Igreja emergente é simplesmente um termo usado para denominar as igrejas que nasceram ou que foram [re] estruturadas para um contexto pós-moderno, pós-cristão de ser igreja no mundo de hoje[4].



Reformando, Repensando e Reinventando a Igreja.
McLaren usa está estrutura para falar da igreja emergente em seu livro Ortodoxia Generosa, onde a estrutura que se pensa a respeito da Igreja deve ser o seguinte:
·                     Reformar: A reforma protestante origina um pensamento que com certo tempo perde um pouco de sua força idealizadora, este pensamento é: a Igreja Reformada sempre se Reformando.
De certa forma este pensamento leva a mentalidade pós-moderna, ou pelo menos as mudanças continuas da Igreja, que por vezes são levadas como adaptações, e estas levam conceitos morais, éticos e anti-bíblicos.
Vale apena lembrar que a Reforma Protestante veio como uma voz profética, onde os reformadores denunciavam os abusos e incoerências da Igreja e seus líderes, que exploravam de forma desumana e pecaminosa, os reformadores não proclamavam uma mudança onde as vontades pecaminosas dos seres humanos tomavam conta do culto e muito mais da Igreja.
O lado positivo a tudo isto é, não há uma forma engessada para se dizer que é correta para todos os cultos e igrejas. A Intenção de reformar não é mudar tudo relacionado à Igreja, de forma geral, e nem a intenção de desconstruir a cultura e os indivíduos nela inseridos, mas simplesmente com o ar da Graça do Senhor Jesus evidenciar tudo aquilo que vai contra os seus ensinos que podem ser estudados, vividos e ensinados por toda e qualquer pessoa.
·                     Repensar: O fato de repensar o formato adquirido pela igreja evangélica é de fato uma coisa importante, pois vê-se a cultura secularizada invadindo e banalizando os pensamentos a cerca dos ensinamentos bíblicos. Um exemplo muito claro no contexto brasileiro é o que se pode chamar de “santidade antes do casamento”, antigamente as pessoas pensavam em se preservar para um casamento puro e santo, onde a noiva entrava com um lindo vestido branco na Igreja simbolizando sua pureza, sua virgindade. Nos dias atuais a questão do sexo antes do casamento tem se tornado comum e muito normal para jovens das grandes cidades, assim como muitas outras assuntos.
Devido a estas mudanças é evidente a necessidade de repensar a igreja, a forma de liderança, o formato do culto, onde a igreja está inserida etc., mas o fato de repensar não quer dizer que tudo está errado, ou tudo está ruim. O repensar esta vinculado a melhoria do culto, esta ligado diretamente ao ato da tentativa de fazer um culto contextualizado onde a cultura e as pessoas são importantes, mas a centralidade ainda sendo a palavra encarnada Jesus Cristo, e as sagradas escrituras ainda estejam na centralidade do culto e também nas igrejas.
·                     Reinventar: a reinvenção do culto é o processo posterior ao pensamento da reforma, e de repensar a igreja. E é também aonde os líderes mais devem temer suas ações e decisões, pois há inúmeras possibilidades de reinventar o culto e torná-los tudo aquilo o que Jesus Cristo não queria que se tornasse.
A reinvenção é típica da Igreja emergente, onde a centralidade do culto não é mais a palavra, e sim a experiência de cada individuo. A comunhão em si parece não ter muito importância, a ênfase está na experiência pessoal, e para isto as formas cultuais foram reinventadas de acordo com a necessidade apresentada pela demanda da igreja local.
A Igreja Brasileira tem demonstrado suas adaptações criativas para o chamado cristianismo. Várias culturas e teologias têm assolado a igreja brasileira, que apresenta uma tremenda crise de identidade e ate mesmo de fundamentos em sua própria fé. E está reinvenção para o povo brasileiro, ate então, apresenta mais desvantagens do que vantagens, a seriedade dos líderes que aderiram estas adaptações culturais mostra com muita transparência que “o chiqueiro” esta de portas abertas, basta às pessoas estarem dispostas a se sujar nesta lama.
No contexto Brasileiro há algumas pessoas que declararam que em muitas vezes pensaram em abandonar esta igreja evangélica, e ate mesmo já abandonaram e hoje tem um discurso ofensivo a este evangelho reinventado[5].

Bibliografia Consultada:
CAVALCANTI, Robinson. O Culto Evangélico no Brasil - Uma Tipologia, Boletim Teologico - FTL-B, Tatuape, v. 9, n. 28, p. 7-16, out. nov. dez. 1995.
KIMBALL, Dan. Igreja Emergente, Cristianismo Clássico para as Novas Gerrações. Tradução Robinson Malkones. São Paulo: Vida, 2008.
MCLAREN, Brian. Uma ortodoxia generosa: A igreja em tempos de pós-modernidade. Tradução Jorge Camargo. Brasilia. Palavra, 2007.
MEISTER, Mauro Fernando. Igreja Emergente, a Igreja do Pós-Modernismo? Uma avaliação Provisoria. Fides Reformata. São Paulo, Makenzie, Volume XI, Nº 1, p.95-115, 2006.
RAMOS, Ariovaldo. Nossa Igreja Brasileira: Uma opinião sobre a história recente. São Paulo. Hagnos, 2002.




[1] MCLAREN, Brian. Uma ortodoxia Generosa. A Igreja em tempos de pós-modernidade. Brasília: Palavra. 2007. P.304-305 (apud Steven Johnson. Emergência: a vida conectada das formigas, cérebros, cidades e software. 2001) “Emergência é aquilo que acontece quando o todo é mais astuto que a soma de suas partes. É o que acontece quando você tem um sistema de partes componentes relativamente simples – na maioria das vezes há milhares ou milhões delas – e elas integram de maneira relativamente simples. E, de algum modo como resultado de toda essa interação, algumas estruturas de nível ou de inteligência mais elevados aparecem, usualmente sem planos-mestres, exercendo autoridade. Esses tipos de sistema tendem a evoluir a partir do chão.”.
[2] KIMBALL, Dan. A Igreja Emergente: Cristianismo Clássico para as novas gerações. São Paulo: Vida. 2008. P.71.
[3] KIMBALL. Op. cit. p.147-154.
[4] MEISTER, Mauro Fernando. Igreja Emergente, a Igreja do pós-modernismo? Fides Reformata. São Paulo. Makenzie. 2006. P.100.
[5] Ariovaldo Ramos em sua obra “Nossa Igreja Brasileira” dedica um capítulo do seu livro para falar deste evangelho que tem atraído pessoas, mas não tem gerado mudança de vida, fala dos líderes que a seu modo de ver estão pregando de forma que não é bíblica e isto o leva a duvidas e as vezes o faz pensar se ele quer continuar sendo “Evangélico”.
Outra pessoa que parte de encontro com o pronunciado nas igrejas evangélicas hoje é o ex-pastor Caio Fábio (Fundador de uma nova seita “Caminho da Graça”). Caio Fábio afirma não poder mais ser chamado de evangélico, pois o que a igreja ensina hoje caminha na contra mão do que Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos.